O adestramento e a cavalaria
militar
A cavalaria militar de guerra é a base para o adestramento
moderno. O treinamento elementar de adestramento nos ensina que o cavalo deve
responder prontamente e obedientemente aos comandos do cavaleiro, para se
conduzir bem nos dois sentidos, e para ser complacente (fácil de manejo e
condução), ou seja, todas as peculiaridades desejadas para um cavalo, cujo
cavaleiro precisa enfrentar espadas, flechas ou tiros. Uma montaria de
cavalaria não traz benefício a qualquer cavaleiro se ela for desobediente, não
responde às ajudas e é de difícil manejo. Desde os tempos antigos, a equitação
básica é treinamento obrigatório nas escolas militares, assim como na famosa
Escola Francesa de Cavalaria, em Saumur.
Nas escolas de cavalaria, nos treinamentos dos cavalos para
a guerra, os espertos cavaleiros descobriram que eles poderiam fazer seus
cavalos se tornarem ainda mais úteis ao ensiná-los movimentos especiais que os
dariam vantagens estratégicas na batalha. Um espadachim, por exemplo, poderia
literalmente ficar acima de seus adversários, montados ou desmontados, ao fazer
o levade[1],
um comando controlado dos posteriores. O cavaleiro poderia dispersar os soldados
desmontados ao pedir que seu cavalo realizasse o courbette[2],
um movimento em que o cavalo se empina a uma altura temível e dá um salto para
frente sobre as patas traseiras.
Além disso, ele podia infligir sérios danos ao girar em uma
linda pirouette e depois fazer o cavalo
realizar um capriole, um salto
vertical com um chute para trás com força total. Este e outros movimentos no ar
acima do chão, assim como são conhecidos, ainda são realizados na famosa Escola
Espanhola de Equitação de Viena.
A cavalaria precisava de montarias com excelente resistência e que podia passar por vários terrenos e obstáculos. Para ajudar a selecionar os
melhores cavalos e a testá-los em sua forma física e atlética, além da
obediência, era realizada uma avaliação em três fases, durante quatro dias,
chamada de Military. Na primeira
fase, avaliava-se o dressage
(adestramento). A segunda fase era um teste de velocidade e resistência, que
compreendia um percurso de steeplechase
e salto em cross-country, ou seja, corrida com obstáculos naturais. Na terceira fase,
havia o concurso de salto em obstáculos artificiais, desenhados para avaliar as
habilidades de velocidade e condicionamento físico, vindos como viessem os
cascos após a árdua prova de cross-country.
No final do século XIX e início do século XX, quando as
espadas foram substituídas por armas
de fogo, as montarias foram pouco necessárias, e os cavalos
passaram a ser treinados em nível mais básico. As competições de salto,
adestramento e cross-country do atual triátlon equestre, chamado também de
concurso completo, são diretamente derivadas da Military.
Quando a arte
encontra o esporte
O Barão Pierre de Coubertin, da
França, fundou o Comitê Olímpico Internacional (International Olympic Committee – IOC), em 1894, com o objetivo de
revitalizar os Jogos Olímpicos como uma competição moderna de esporte
internacional. O primeiro evento olímpico moderno aconteceu em Atenas, em 1896.
A primeira participação equestre foi
nas Olimpíadas de Paris, em 1900, mas não com as modalidades que se apresentam
nas competições equestres atuais. Acorreram quatro eventos equestres: o polo,
que foi disputado entre quatro equipes (Grã Bretanha, França, México, Espanha e
Estados Unidos); o salto, que foi semelhante ao de hoje, com 45 competidores inscritos,
mas somente 37 competiram; o salto em altura (conhecido como prova de potência),
que chegou à marca de 1,85 m, com um empate entre o francês Dominique Gardere,
montando Canela, e o italiano Gian Giorgio Trissino com Oreste; e o salto em
distância, que atingiu a marca de 6,10 m por Constant van Langendonck e Extra
Dry, e Trissino com Oreste novamente foram destaque, ganhando a medalha de
prata com a marca de 5,70 m. Destaca-se também a participação de uma mulher, Elvira Guerra, da equipe francesa de polo.
A
participação equestre desapareceu das Olimpíadas de 1904 e 1908. O
público precisou esperar até 1912, nas Olimpíadas de Estocolmo, para ver o retorno
equestre nas Olimpíadas. Isso se deve muito aos esforços do Conde Clarence Von Rosen,
mestre cavalariço do Rei da Suécia. Von Rosen acreditou que poderia incluir as
competições equestres nas Olimpíadas, e que isso iria estimular o interesse do
público em geral pelo esporte equestre, então, ele estabeleceu o Comitê
Internacional Equestre e apresentou a ideia ao IOC em 1906,.que aprovou a
medida para as Olimpíadas de Londres, em 1908. Porém, problemas de ajustes no
recém-criado Comitê Equestre impediram sua participação no evento de 1908. Von
Rosen também foi grande precursor da popularidade do adestramento na Europa.
Nas Olimpíadas de Estocolmo, em
1912, foram apresentadas três modalidades equestres: a Military com três dias de prova, uma competição individual de
adestramento, além das competições de salto individual e por equipe. Todas essas
modalidades ainda permanecem no programa olímpico até hoje.
A partir de 1912, e durante
cinco décadas das competições olímpicas modernas, somente homens militares
podiam competir. Referindo-se particularmente ao adestramento, os padrões
pré-determinados das reprises eram preparados para adequar ao nível dos cavalos
dos militares. A única maneira de mulheres serem capazes de participar seria
como proprietárias de cavalos inscritos nas competições. Como proprietárias, elas recebiam os
créditos como vitoriosas, porém, elas não podiam estar presentes nos eventos.
Somente a partir de 1952, todos os
homens, militares ou civis, foram permitidos a competir em todas as modalidades
equestres dos jogos olímpicos, e as mulheres foram permitidas a competir
somente no adestramento. As mulheres passaram a competir em competições de
salto somente a partir de 1956, e no concurso completo somente a partir de
1964. Vale a pena destacar a amazona britânica Lonra Johnstone, que, em 1972, com 70 anos, foi a mais velha mulher a competir em provas equestres em Olimpíadas. Também é importante destacar que, atualmente,
existem somente dois esportes olímpicos em que homens e mulheres competem
diretamente um contra outro por igual: o hipismo e o iatismo.
As competições olímpicas definem o padrão para outras
competições equestres internacionais, bem como para competições internas, nos vários
países que participam das Olimpíadas. Por essa razão, as reprises de
adestramento não incluem levade,
courbette e capriole, que se
tornaram obsoletos com o advento dos armamentos modernos. Porém, ainda estão
incluídos o piaffe, que compreende um desafiante
trote no mesmo lugar, e o passage,
que é um trote elevado com um momento de hesitação entre as passadas. Esses dois
movimentos são considerados de maior reunião e os mais sofisticados (ne plus ultra) das competições do
adestramento moderno.
Bibliografia dos três capítulos da história do adestramento:
BRYANT, J. O.
The USDF guide to dressage: the
official guide of the United States Dressage Federation, 2006.
GUENARD, Laurence G. L’équitation
pédagogique. Disponível em: < http://equipeda.info/basse-haute-ecole.html>.
MORROW,
Jason. The dressage arena: the story
of the letters. Disponível em: <http://borrowing-freedom.blogspot.com.br/2012/04/dressage-arena-story-of-letters.html>.
TOP ENDS
SPORTS. Women at the Olympic
Games. Disponível em:
<http://www.topendsports.com/events/summer/women.htm>.