domingo, 29 de maio de 2011

Correções e resistências de cavalos

Texto baseado nos ensinamentos de George Morris
Para se corrigir um cavalo é necessário trabalhá-lo até que ele esteja bem física e mentalmente.
A correção é o que mais confunde as pessoas. O cavaleiro deverá sempre procurar a leveza, mas leveza não vem porque o cavaleiro começa a ser bonzinho e leve com o cavalo. A leveza vem através do entendimento do cavalo sobre como são usadas as ajudas. Por exemplo, se o cavalo está correndo e o cavaleiro quer que ele vá mais devagar, não adiantará nada simplesmente ficar sentado e pensando que ele deverá ser suave como cavalo. O cavalo deverá aprender a se tornar leve.
Quando se vê um cavaleiro experiente montando um cavalo bem preparado, não se perceberá quando o cavaleiro usará suas ajudas. Mas com certeza, no passado, este cavalo já terá passado por várias ocasiões de uso de fortes ajudas para ter chegado a entender o trabalho com leveza.
Em muitos cavalos é possível se notar o resultado positivo em somente um dia de correção, em outros, são necessários vários dias de trabalho de correção. É muito comum encontrar cavalos que aparentemente estão trabalhando bem, mas quando um cavaleiro experiente os monta consegue perceber resistências com as quais os donos dos cavalos não as conhecem ou as estão evitando.
Quando o cavaleiro corrige o cavalo que está resistindo ao trabalho, ele está tentando impedir que o cavalo desenvolva sua capacidade de fugir do trabalho.
O cavalo aprende que existe sempre uma opção mais fácil do que aquela que se está pedindo que ele faça. Quando o cavalo tem opções, ele sempre escolherá a opção mais fácil.
Para que se ensine o cavalo a mudar seu comportamento é preciso usar a ajuda de maneira rápida e forte até ele mudar seu comportamento. A partir do momento que ele muda e cede ao que o cavaleiro pede, ele deverá refinar as respostas do cavalo, assim ele irá refinar as ajudas também, e é assim que se chega à leveza.
Quando o cavalo estiver resistindo, a ajuda deve se tornar mais forte. Se ele ainda assim resistir, a ajuda se tornará mais forte ainda, até que o cavalo se sinta desconfortável e tentará achar uma resposta à situação. É nesta hora que o cavaleiro deverá encorajar o cavalo a ceder e se tornar mais suave. Imediatamente após o cavalo ceder, a ajuda se tornará mais leve.
O cavaleiro deverá ter cuidado para não tirar a sensibilidade do cavalo ao usar suas ajudas de maneira muito forte o tempo todo. Os cavalos podem se acostumar facilmente com pessoas que ficam batendo com seus chicotes por qualquer razão. O que acontece é que ao invés do chicote servir como ajuda para que o cavalo vá para frente, ele se tornará algo que o cavalo aceita e passará a ignorá-lo.
Verdadeiras resistências devem ser corrigidas por verdadeiros profissionais.
Quando cavalo está sob total pressão, seu cérebro pára de funcionar e ele não consegue mais pensar sobre o que ele está fazendo. É quando os cavalos se jogam na cerca, empinam, saem andando de lado ou disparam. O cavaleiro deverá sempre ter cuidado em não deixar chegar a este ponto quando estiver corrigindo as resistências do cavalo.
E importante que o cavaleiro reconheça que se o cavalo está resistindo a um trabalho por muito tempo e desenvolveu uma maneira de fugir do trabalho, é necessário que se entregue este cavalo para um cavaleiro bastante experiente para que ele possa corrigir o cavalo de maneira firme e confiante para poder fazer com que o cavalo entenda claramente o que deve ser feito.
É muito difícil fazer correções adequadas em cavalos com problemas quando o cavaleiro tem dificuldade de equilíbrio e é inexperiente. Mas deve-se ter muito cuidado ao entregar um cavalo nas mãos de outro cavaleiro, pois são muito poucos os cavaleiros que realmente têm paciência e sabem como corrigir cavalos problemáticos.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Valorização do instrutor de equitação

Quando um cavaleiro se convence de que já sabe tudo sobre equitação é quando ele perde a humildade e paralisa seu aprendizado. A prática da equitação é um processo contínuo de aprendizagem. O ditado que diz que “cada cabeça é uma sentença” também se aplica aos cavalos, e por isso, lidar, negociar e trabalhar um cavalo, de maneira a encontrar o preparo físico e mental ideal, é um aprendizado diário ao longo da vida de quem pratica este esporte. Portanto, engana-se o cavaleiro que se julga autossuficiente e dispensa a ajuda para ser observado e avaliado ao montar e trabalhar um cavalo.
Os cavalos são muito sensíveis às ajudas e à postura do cavaleiro. Ao contrário, o cavaleiro, não tem consciência da ineficiência de suas ajudas e não percebe que adquire vícios de postura (como abaixar demais a cabeça, manter a coluna encurvada, puxar a perna para cima, esticar os braços, esticar a perna para frente etc), ou adquire manias (como utilizar o chicote sem necessidade, usar a espora em excesso, puxar a rédea sem necessidade, trabalhar sem a ajuda do acento etc.). Daí a importância de se ter aulas, até mesmo para os cavaleiros mais experientes!
É sempre importante para o cavaleiro reciclar suas técnicas com outros mais experientes. O cavaleiro deve estar sempre tentando melhorar. O bom cavaleiro é aquele que está sempre aberto a aprender. Por isso, obter instrução é importante, porém não é tudo. A instrução deve ser de qualidade, com técnica suficiente para atingir o preparo físico e mental do conjunto.
O desenvolvimento  físico-mental exige que o cavaleiro aprenda a se autoavaliar, a se conhecer e a ter sensibilidade suficiente para conhecer e sentir seu cavalo, suas características, sua personalidade, suas manias e seus defeitos, assim como os seus próprios. E para tanto, é preciso ter apoio de um bom técnico.
O bom cavaleiro é aquele que pratica a equitação ouvindo, perguntando, se orgulhando dos elogios, mas também aceitando críticas, tentando se corrigir, observando, fazendo, experimentando, enfrentando desafios, estudando, se concentrando etc. A equitação é um esporte composto por mais falhas do que êxitos, por isso, o bom cavaleiro é aquele que sabe ser humilde, paciente e persistente, mas que também sabe desfrutar dos momentos de alegria e de vitória.
Segundo Frank Maden, se o cavaleiro não sabe o suficiente sobre seu esporte, não deverá ficar surpreso se não conseguir atingir seus objetivos. E George Morris afirma que o cavaleiro pode fazer mais do que sabe, basta confiar! O cavaleiro só irá acreditar no que sabe depois que fizer, mas primeiramente deve ser bem preparado para enfrentar os desafios da equitação. O cavaleiro conseguirá mais confiança somente se testado, mas para isso deverá estar sendo assistido para testar suas habilidades com segurança. Portanto, é necessário estabelecer uma parceria entre cavalo, cavaleiro e instrutor.
É por isso que é importante ter um técnico para dar assistência, advertir sobre riscos, corrigir vícios e manias, ensinar técnicas e avaliar a qualidade do trabalho físico, avaliar o equilíbrio mental do cavalo e do cavaleiro, adequar o trabalho aos limites e ao nível de conhecimento do conjunto, definir uma metodologia de trabalho para atingir objetivos específicos etc.
... E pensar que em pleno século XXI, o Brasil, que vai sediar uma Olimpíada, ainda não tem a cultura de valorizar o profissional de equitação, o técnico de um dos esportes olímpicos. A profissão de instrutor nem sequer é reconhecida formalmente! Como se pretende formar atletas desta modalidade olímpica se não há incentivo, apoio e reconhecimento dos profissionais envolvidos neste esporte?

terça-feira, 24 de maio de 2011

Bem-vindo à Equipe Lupe, Nico!

Queremos dar as boas-vindas ao novo integrante da Equipe Lupe de Equitação, Nicolas Muñoz! Bruno o recepcionou com um longo passeio no Calme. Confiram as fotos!




terça-feira, 17 de maio de 2011

Treinamento Mental do Cavaleiro

Existem várias formas de abordar a aprendizagem e o treinamento esportivo, que controlam e aperfeiçoam o desempenho físico por meio da capacidade do cavaleiro em concentrar-se e controlar sua própria mente. Esta abordagem tem obtido muito sucesso em quase todas as modalidades esportivas, mas ela somente poderá trazer resultados se o cavaleiro tentar praticá-la sempre, ou seja, exercícios de concentração devem ser praticados consistentemente durante os treinos e não somente nas vésperas de uma competição.

A capacidade do cavaleiro em visualizar movimentos significa conseguir realizar os movimentos somente no interior da mente, com a frequência que desejar, sem exigir esforço desnecessário do cavalo. Se a concentração for direcionada e treinada cuidadosamente, o cavaleiro poderá conseguir grandes sucessos em se fechar para distrações e assim canalizar toda sua energia e habilidade para a tarefa a ser realizada.

Finalmente, uma atitude positiva ajuda a manter estável a postura emocional quando o cavaleiro cometer erros, e também a controlar o nervosismo. Isto porque o cavaleiro com pensamento positivo se mantém confiante de sua capacidade em realizar suas tarefas na equitação, em qualquer circunstância, em qualquer local do mundo em que estiver praticando seu esporte.

Esta abordagem ao treinamento esportivo não é somente a chave para o sucesso, mas também possibilita o cavaleiro a se divertir e sentir prazer ao praticar seu esporte.

Ao desenvolver a conscientização da formação, dos movimentos e limites do próprio corpo, o cavaleiro será capaz de sentir o movimento do cavalo com mais consciência e intensidade, conseguirá aprender a “ouvir” seus próprios sentidos e irá gradualmente depurar o uso das ajudas em uma sintonia perfeita com o cavalo e seu corpo.

Ao aprender a usar a mente para controlar e aprimorar os movimentos do corpo e se conscientizar da influência dos mesmos no cavalo, o cavaleiro será capaz de reconhecer e sentir o prazer do progresso esportivo, independentemente dos troféus conquistados em competições.

Fatores importantes para o treinamento mental:
  • Relaxamento: ao se sentir sob pressão, stress ou medo, sobretudo em ocasiões competitivas, o corpo produz adrenalina causando tensão nervosa e muscular, e os sintomas típicos são suor, coração acelerado e pouca respiração. Para estas ocasiões, é necessário um relaxamento eficaz e confiável. O exercício de relaxamento mais indicado é o relaxamento dos ombros acompanhado de controle de respiração. Mas o mesmo só terá resultado positivo se for praticado sempre por um longo período de tempo.
  • Sensibilidade corporal: a conscientização pronunciada e precisa do próprio corpo é especialmente importante para a equitação, pois é somente após alcançar um alto grau de sensibilidade é que será possível influenciar, e assim aprimorar, os passos do cavalo, melhorar os exercícios, as posturas do cavalo e do cavaleiro, o uso do acento e das ajudas.
  • Concepção do movimentomentalizar o movimento e como ele se desenvolve com a maior precisão possível, com a maior clareza possível, como se fosse real. Esta capacidade pode se desenvolver a tal extremo que o corpo reage em sintonia à imaginação, e consequentemente, faz com que o cavaleiro consiga realizar o movimento bastando apenas pensar nele.
  • Concentração: a concentração deve ser praticada com o objetivo de excluir fatores ambientais ou raivas e emoções pessoais por todo o período de treino, todos os dias. Desta forma, o cavaleiro consegue treinar a si próprio para não se abalar ao cometer erros, e assim será capaz de se concentrar imediatamente e exclusivamente para o próximo exercício ou obstáculo.
  • Pensamento positivo e autoconfiança: pensar positivamente e desenvolver uma autoconfiança saudável. O cavaleiro deve desenvolver a consciência do que é capaz – e ter um pouco de orgulho de sua capacidade. Isto ajuda o cavaleiro a acreditar em si para tentar realizar as coisas que “ainda” não é capaz de fazer. Os objetivos traçados pelo cavaleiro devem ser realistas em relação ao que é possível fazer de acordo com as circunstâncias existentes. Isto significa que o cavaleiro deve ser racional e autocrítico. Ele deve sempre planejar o que quer alcançar de maneira positiva: não ficar dizendo a si próprio o que não deve ser feito, mas sim, o que deve fazer – não o que é errado, mas sim, como fazer o que é correto.
Fonte: Conteúdo baseado nos ensinamentos de Dr. Eberspächer, Professor de Psicologia do Esporte,
Universidade de Heidelberg, Alemanha.