Agora que vocês escolheram equitação como modalidade
esportiva, vocês praticamente já pré-determinaram a rota ou o caminho que os
conduzirá a um conjunto de desafios e a várias oportunidades de conquistas.
Os principais desafios estão na complexidade da modalidade
escolhida, estão na abrangência das técnicas de trabalho. A equitação é uma
atividade que não depende de um receituário prévio. Não se trata de fazer uma
simples listagem de tarefas ou atividades e executá-las. Equitar necessita de
um mínimo de técnica de trabalho e sua correta interpretação, para tanto o
cavaleiro ou a amazona precisa desenvolver a capacidade de diagnosticar para saber
antecipadamente o que fazer ao montar seu cavalo. Estão entre as funções do
cavaleiro ou da amazona identificar os problemas existentes, mapear as
oportunidades, verificar os pontos de apoio das forças positivas de sustentação
e solucionar as forças negativas de antagonismo e resistência.
Veja, por exemplo, o médico. O primeiro passo para qualquer
consulta ou tratamento é o diagnóstico. O médico faz previamente uma análise do
paciente, isto é, busca dados e informações a seu respeito, faz sondagens e solicita
exames variados para poder fazer uma avaliação ampla e profunda de sua
situação. Com as informações coletadas em mãos, ele tem condições de definir um
diagnóstico preliminar. Se esta avaliação não estiver correta, o médico deverá
repetir a análise até identificar o problema e tratá-lo. Enquanto o médico
interage com o paciente, o cavaleiro interage com seu cavalo, diagnosticando e
agindo de forma apropriada. Na verdade, trata-se de, primeiramente, conhecer
bem “o terreno por onde andar” e de não se deixar envolver por atalhos
aparentemente razoáveis e tentadores, mas perigosos.
O cavaleiro deve aprender a compreender a essência do
problema ou da situação para praticar a equitação adequada, pois diagnosticar
situações, problemas ou necessidades é sempre o passo inicial de um bom
cavaleiro antes de pensar na ação a ser executada apropriadamente. Ele deve saber
ver e ouvir para poder refletir e planejar, seus olhos e ouvidos devem estar
atentos a tudo que acontece ao seu redor, e seu raciocínio deve ser rápido para
evitar ou contornar situações difíceis. O bom cavaleiro antecipa problemas,
preparando-se para situações inesperadas, vagas, ambíguas ou imprecisas, e que
requerem soluções práticas, rápidas e ágeis. Na equitação, as adversidades
fatalmente surgirão, antes mesmo que vocês as imaginem. Sejam rápidos e saibam
o que fazer! Esse é o desafio principal.
Falando um pouco sobre a importância do instrutor na equitação:
Sócrates costumava discutir com seus discípulos, utilizando
exemplos comuns e simples para tratar de assuntos profundos sobre temas morais,
espirituais e humanos. Muitas vezes nos enterramos até a cabeça em temas
profundos e complexos, e nos perdemos neles. Esquecemos que eles podem ser
tratados de forma mais simples ou até mesmo simplórias, embora não
necessariamente menos profunda. Alguns exemplos tirados do mundo real podem nos
ajudar a entender alguns aspectos da equitação e encará-la como uma arte que produz resultados belíssimos. Fazendo uma analogia com a música erudita, falo um pouco do papel do instrutor na equitação. Toda sinfonia, por melhor que seja, necessita de uma orquestra inteira para tocá-la em sua plenitude. Se apenas um instrumento funcionar e as demais – cordas, metais, percussão – deixar de funcionar, os sons emitidos podem não fazer sentido e sua qualidade não será a ideal. Se os violinos estão desafinados, o resultado sonoro será decepcionante. É a totalidade e a harmonia da orquestra que dá o tom. Todos os integrantes precisam tocar seus diferentes instrumentos dentro do ritmo, da harmonia e da intensidade. Cada qual em seu papel e de acordo com sua participação no conjunto. Por sua vez, o maestro não emite sons, não toca absolutamente nenhum instrumento.
Aparentemente, o maestro não deveria fazer falta em uma sinfonia, pois seu papel não é audível, mas ele agrega um valor inestimável. Em muitas ocasiões, o principal papel do maestro não aparece para ninguém, pois seus papel está em cuidar dos infindáveis ensaios da orquestra, ensinar os músicos, explicar, comunicar, orientar, exercitar, repetir, ajudar e encontrar o desempenho ideal, até chegar à perfeição. Para cada minuto de desempenho, a orquestra passa por horas e horas de ensaios duros. O instrutor é como um maestro. É o condutor, treinador, preparador, orientador, aglutinador, líder, inspirador, impulsionador, o técnico.
Não adianta considerar isoladamente um ou somente alguns dos elementos da equitação: um bom instrutor, um bom cavaleiro, um bom cavalo ou um bom piso. O conjunto harmonioso de todos esses elementos é que soa como uma sinfonia se trabalhado adequadamente e com sensibilidade. É isso que faz com que a equitação seja uma arte que produz resultados belíssimos!
A equitação é a arte de produzir resultados físicos, mentais e psicomotores por meio de movimentos harmoniosos entre cavalo e cavaleiro, que requer trabalho duro com dedicação, entusiasmo, inteligência, planejamento, estratégia, sensibilidade e muita paciência – pontos-chave para o sucesso na equitação!
Bom! Espero que essas palavras escritas sirvam como ajuda para esclarecer o papel de cada um no conjunto harmonioso que deve existir para realizar a arte hípica: um cavaleiro ou amazona, um cavalo, um instrutor e uma organização hípica.
Oralmente ou por escrito, estarei sempre repetindo este brado a vocês! E espero que isso lhes traga êxito, harmonia e sustentabilidade física e emocional, dentro e fora da equitação.
Luciano Pereira Filho
Confira estes vídeos. São fantásticos!
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