O Ministério Público de São Paulo, por meio da Promotoria de
Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da Infância e da
Juventude, firmou, em 06 de maio de 2014, um Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC), com a Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) e com a Federação
Paulista de Hipismo, para regulamentar a prática do esporte hípico no Brasil.
Uma investigação do Ministério Público de São Paulo apurou
que o esporte hípico não é regulamentado no Brasil, mas sim somente as
competições. Verificou-se também que, em geral, não há qualquer padronização no
tocante à formação mínima dos instrutores, e nem há regulamentação do
funcionamento das escolas de equitação, dos clubes hípicos e dos manejes.
O hipismo brasileiro precisa sair dessa situação para outra
mais competente e de melhor qualidade, mas sem perder as características específicas
do esporte praticado na América Latina, que é a capacidade de enfrentar as
dificuldades sem perder a alegria e o otimismo para lidar com a vida e o
bem-estar. Porém, o esporte precisa crescer de maneira organizada, com regras,
planejamento e educação, e conseguir atingir qualidade sem perder essa animação
típica de brasileiros e latino-americanos. É possível conseguir competência sem
perder grandezas. Por meio da CBH, o Brasil tem tido melhoras significativas no
esporte hípico nas últimas décadas, mas ainda tem muito a percorrer quando comparado
a países desenvolvidos.
Na Europa, quando uma pessoa pretende adquirir um cavalo ou
ter aulas de equitação, ela procura os lugares regulamentados para a prática do
hipismo e também os profissionais capacitados para o esporte. No caso do
Brasil, não há qualquer regulamentação no tocante à formação mínima de escolas
e instrutores, pois o país, até hoje, não deu atenção devida à capacitação de
profissionais de hipismo, nem à regulamentação do funcionamento de escolas de
equitação de forma a padronizar suas regras de planejamento e gestão, bem como suas
metodologias de ensino.
Enquanto não houver um compromisso no Brasil para enfrentar
o desafio de reverter essa situação no esporte hípico, este panorama
permanecerá realmente sujeito a procedimentos inadequados, a exemplo do que
aconteceu com uma mãe, em São Paulo, que questionou a formação dos instrutores
do esporte hípico após vivenciar a experiência com sua filha, menor de 18 anos,
que foi aluna de equitação em mais de um centro hípico na cidade e foi escalada
para montar animais muito arredios, incompatíveis com sua idade e nível de
aprendizagem.
Os cavaleiros e instrutores brasileiros trabalham com
determinação e vontade, mas muitos deles produzem pouca qualidade, sobretudo na
formação de seus cavalos. Existem vários profissionais no Brasil com má
formação técnica, que, eventualmente conseguem chegar a algum resultado com
base em tentativas. Com erros e acertos, vão tentando até que uma hora acertam
no alvo sem ter certeza do que fizeram para acertar. Por não possuírem
conhecimento técnico adequado, acabam gastando muito mais tempo para formar
atletas (cavalo e cavaleiro), ou muitas vezes causam danos irreversíveis a
eles. Cavaleiros acabam desistindo do esporte, e cavalos são deixados de lado
por aprenderem a resistir ao treinamento inadequado. Isso é desgastante e
desmotivador para o hipismo.
No Brasil, ao procurarem por aulas de equitação, são poucas
as pessoas que sabem sobre equitação de qualidade ou sobre regulamentação de
escolas esportivas, por isso, elas simplesmente confiam nos instrutores das
escolas dos centros hípicos. Porém, nem sempre isso significa que estão em boas
mãos para adquirirem, com segurança e adequação, as técnicas de hipismo de
qualidade. Além disso, é uma questão cultural da maioria dos brasileiros querer
atingir resultados com pouco trabalho, pouco custo e em curto espaço de tempo;
e pouco valorizam o bom trabalho feito com capricho, respeitando o ritmo de
aprendizagem para realmente adquirir técnicas apropriadas para atingir a
qualidade.
Eu acredito que seja possível mudar essa situação. Não é uma
tarefa fácil, pois se trata de uma questão cultural e não somente uma questão
técnica. Por isso, como profissional de hipismo desde 1979, minha ideia aqui
tem como objetivo me colocar à disposição para ajudar no que for preciso para
que a CBH possa regulamentar o esporte hípico a fim de formar bons e
competentes profissionais de hipismo e promover a prática deste esporte no
Brasil.
Luciano Pereira Filho